MEU PEQUENO JARDIM DE TROVAS
Retrata o momento meu,
meu sonho, meu dia a dia,
a pena que Deus me deu,
embebida em poesia.

São coisas de trovador,
quando vem a inspiração;
na tinta que escrevo o amor,
também sangra o coração.

Minhas rimas são a cruz
onde rezo minha dor.
Quatro lágrimas de luz.
São a voz de um trovador!

Na noite de solidão,
minha dor há de soar
feito o verso escrito em vão,
pelas ruas a rolar…

No silêncio do jardim
passo a vida que bem sei,
cultivando para mim
certas flores que neguei.

Por um momento fugace,
sonhando nos braços tê-la,
senti como se beijasse
rapidamente, uma estrela.

Foram lindos versos dados
à mulher do sonho meu.
Mas, nos ventos agitados,
o poema se perdeu.

Na natureza do amor,
o ciclo se reinicia:
as chuvas dão vida à flor.
E a flor dá vida à poesia.

O vento sopra. A cortina
silenciosa levita.
E a lua paira, divina
feito uma prece bendita.

Após confissões extremas,
tantas juras amorosas,
amarelam-se os poemas,
feito pétalas de rosas…

Ser feliz a vida inteira,
esperava, quando tinha
tua sombra companheira
caminhando junto à minha.

O vento, num assovio
predominante, sem fim,
balança o ninho vazio,
na solidão do jardim…

Após a estiagem plena,
gotejando galhos nus,
a solitária falena
aplaude um raio de luz…

A minha alma, neste chão,
é uma parede em ruína
erguendo na solidão
a janela cristalina...

A saudade rebrotou
vagarosamente, assim
como a flor que ela beijou,
um dia, no meu jardim…

Na rua quase vazia,
as asas, em seu rumor,
agitam com alegria
o nosso jardim em flor.

As horas erram perdidas,
quando estou a te esperar,
feito folhas ressequidas
no céu cheio de luar…

São tantas palavras minhas
no silêncio a se perder,
feito vagas andorinhas
na tarde que vai morrer…

No final do chuvaréu,
gotejos em borbotão.
E os pássaros bebem céu
das poças frias no chão.

Na solidão do poente
existe qualquer segredo,
quando venta longamente
e balança-se o arvoredo…

Durante o momento vago,
um brevíssimo rumor
movimenta o azul do lago…
E o lago se cobre em flor.

Na manhã de solidão,
abrindo minha janela,
vejo flores no portão
cruzado, um dia, por ela…

O vento despetalou,
esquecida sobre o chão,
a rosa que ele deixou,
após a desilusão…

Faz lembrar a flor singela
que recusaste de mim,
a borboleta amarela
a bailar no teu jardim…

No dia vago, cinzento
e de murmúrio fugaz,
releio a vida, no vento
que só folhas mortas traz.

Após o teu beijo leve,
um perfume, então ficou.
Assim como um sonho breve.
Cada qual se dissipou.

Uma vida de ternura…
E um sorriso é o que me resta,
de uma pálida moldura
sobre a cômoda modesta…

Os ventos desoladores
agitam a galharia,
tão longos, como se as flores
não mais voltassem um dia…

No portão da minha casa,
uma rosa perfumada
até finge criar asa,
quando passas na calçada.

As borboletas sedosas
no jardim cheio de cor,
são mensagens silenciosas
de uma flor para outra flor…

Na imensidade do céu,
o luar de frágil luz
é como se fosse um véu
na ponta dos galhos nus…

É feito livro relido,
agora, no vento frio,
o meu romance perdido
naquele banco vazio…

Hoje penso: a minha dor
já no tempo se perdeu!
Mas teu adeus é a flor
que ainda marca o livro meu…

Outro aspecto, outra pintura…
Toda a casa, renovada.
Exceto pela moldura
sobre a cômoda rendada…

O lindo vaso de flores
com borboleta a voar,
diz daqueles moradores
e da paz daquele lar.

Do meu passado de flores,
folhas mortas, afinal,
que os ventos desoladores
abandonam no portal…

Naquele parque vazio
de início de primavera,
as folhas voam sem brio…
E já ninguém mais me espera.

Na tarde em suaves chamas
e sonolento rumor,
o vento balança as ramas
carregadinhas de flor.

São pétalas amarelas,
já ressequidas, porosas,
mas que um dia foram belas
e que um dia foram rosas!

Quando todo meu afeto
sobre o chão desmoronar,
restará como meu teto
a beleza do luar…

O pensamento flutua,
no momento de magia
que um vaga lume pontua
a noturna poesia.

A chuva silenciosa
passa feito um vago sonho.
E logo, a primeira rosa
marca os versos que componho.

A dor maior me atingiu,
ao vir a triste noção:
a pedra que me feriu
foi, um dia, um coração.

Descerro minhas pestanas
na noite de solidão
que o luar nas persianas
escreve mais um refrão…

Manhã cheia de calor,
que as borboletas sedosas
dão toques de céu à cor
do meu canteiro de rosas...

No momento de temor
o teu beijo recusei.
Hoje, vejo em toda flor
aquela que não beijei…

A saudade, de repente.
Feito nuvens de janeiro
a ensombrecer vagamente
as flores do meu canteiro...

Por mais que passe ligeiro
o tempo da primavera,
no abandono do canteiro
ainda uma flor te espera...

A tua lembrança agora,
nas manhãs, quando desperto,
é um raio de sol que mora
em meu recinto deserto.

Na solidão do caminho,
ao cair dos temporais,
o decrépito moinho
dialoga aos vendavais...

Um dia nós cultivamos
o nosso jardim de rosas.
Hoje, sob os mesmos ramos,
teço trovas dolorosas.

Uma lágrima brilhante
vai deixando os olhos meus,
com a carta fumegante
insistindo num adeus…

Somos nós, hoje, a rimar
na poesia encantada.
Amanhã, bem se sabe: o ar
de uma página virada...

Jamais venha a perecer
a flor com a qual me apego,
que, com medo de perder,
até com lágrimas, rego.

A triste emoção de ver,
no declínio da estação,
as flores que vão morrer,
devagar, beijando o chão...

A moça humilde, singela,
levando aos lábios a flor,
parece que beija a bela
mensagem de um trovador…

É como a flor que inebria,
o teu sorriso a se abrir,
sanando os males do dia
e me fazendo sorrir.

No caminho sem rumor,
prosseguindo os passos teus,
vejo apenas uma flor
balançar… - O teu adeus.

Se Deus achar que mereço
hei de caminhar, um dia,
em rumo ao teu endereço,
com flores e poesia.

Quase faço uma canção,
na linda arte de rimar
minha mão com tua mão,
meu olhar com teu olhar.

Na noite misteriosa,
os passos leves, de fada,
tua alma silenciosa
subiu os degraus da escada…

Depois que as cortinas cerram
suas pálpebras de linho,
os meus passos tristes erram
entre as poças no caminho…

Lá dos céus, iluminada,
ela me ouve, com certeza,
como, no alto de uma escada,
uma aparição acesa.

Seja sempre um buscador
das singelas alegrias.
Um simples ramo de flor
também embeleza os dias.

Sou como aquele velhinho
na varanda ensombrecida,
olhando o mesmo caminho,
após mais uma partida...

Quando lembro que partiste,
o coração desatina
feito a voz de um sino triste
numa tarde de neblina…

A lembrança de um amor
que no tempo se perdeu,
é perfume de uma flor
que muito longe morreu...

Bendito seja, louvado
feito tudo o que é de Deus,
o crucifixo dourado
que levas aos lábios teus.

Sobre o pano axadrezado
uma flor de primavera
diz do beijo apaixonado
que em nosso quarto me espera...

Ao abrir minhas cortinas
para a noite perfumada,
vêm estrelas pequeninas
indagar por minha amada.

Testemunha solitária
da esperança que declina,
a pequena luminária
na beirada de uma esquina…

Tua voz melodiosa
agitou meu coração,
como os ventos, uma rosa
numa tarde de verão…

Existe entre nós, pesado,
frio, desmotivador,
desde sempre, o cadeado
na tua cancela em flor…

Sou cavaleiro sem mapa,
no horizonte, a me perder.
A tristeza feito capa,
todo tempo, a me envolver.

Partiste da minha vida,
deixando, ao amanhecer,
uma breve despedida
que não canso de reler…

No meu peito castigado
a borboleta pousou,
feito o toque delicado
de quem um dia me amou…

Foram tantos sonhos meus
nos momentos de ilusão,
e somente num adeus,
pude ter a tua mão.

Meu coração solitário,
vesperal e trovador,
tem algo de um campanário
no meio do campo em flor.

Do sonho onde te abracei,
por um momento de luz,
de repente despertei
abraçado à tua cruz.

Cada flor de margarida
que desponta no jardim,
uma página da vida
ela marca, para mim.

O vento primaveril
soprando os dias em flor,
elevou aos céus de anil
as minhas trovas de amor.

Meu coração trovador
segrega a ambição singela
de ser ao menos a flor
que paira em tua janela.

As linhas apaixonadas
que te escrevo normalmente,
são páginas inspiradas
nas asas de um doce poente...

Uma ressequida flor
ainda marca o final
da nossa história de amor,
que já é quase irreal...

Nosso beijo sinto arder
no crepúsculo da vida,
como, ao fim do entardecer,
uma rosa bem colhida.

Na janela do sobrado,
Ao luar encantador,
vejo um vulto iluminado
aspirar um ramo em flor.

Sobre a folha, ao meditar,
um rabisco vão qualquer,
de repente vem rimar
com um nome de mulher.

Uma vida proveitosa
tu terás, se cultivares
pelo menos uma rosa,
no caminho que passares.

Vi na trilha que conduz,
o teu vulto se perder
feito um suspiro de luz
nas sombras do entardecer…

Voa longe o passarinho
na manhã de solidão,
despedindo-se do ninho
e abraçando a imensidão...

Horas mortas, que a neblina,
entre folhas outonais,
põe o branco véu na esquina
onde alguém não volta mais…

Para tornar o meu sonho
em realidade plena,
pego de uma folha e ponho-o
sob o lume de uma pena.

Na dura lida em que vivo
e desde sempre vivi,
diversas flores cultivo.
E ficarão por aqui.

Termina o drama sem corte,
ao fim da página lida…
É quando o sopro da morte
cerra o livro desta vida.