No Jardim Da Poesia

de Paulo Maurício G. Silva

Textos

MEU PEQUENO JARDIM DE TROVAS

 

 

Retrata o momento meu,

meu sonho, meu dia a dia,

a pena que Deus me deu,

embebida em poesia.

 

 

 

 

 

 

São coisas de trovador, 

quando vem a inspiração;

na tinta que escrevo o amor, 

também sangra o coração.

 

 

 

 

 

 

Minhas rimas são a cruz

onde rezo minha dor.

Quatro lágrimas de luz.

São a voz de um trovador!

 

 

 

 

 

 

Na noite de solidão,

minha dor há de soar

feito o verso escrito em vão,

pelas ruas a rolar…

 

 

 

 

 

No silêncio do jardim

passo a vida que bem sei,

cultivando para mim

certas flores que neguei.

 

 

 

 

 

 

Por um momento fugace,

sonhando nos braços tê-la,

senti como se beijasse

rapidamente, uma estrela.

 

 

 

 

 

Foram lindos versos dados

à mulher do sonho meu.

Mas, nos ventos agitados,

o poema se perdeu.

 

 

 

 

 

Na natureza do amor,

o ciclo se reinicia:

as chuvas dão vida à flor.

E a flor dá vida à poesia.

 

 

 

 

 

 

O vento sopra. A cortina

silenciosa levita.

E a lua paira, divina

feito uma prece bendita.

 

 

 

 

 

 

Após confissões extremas,

tantas juras amorosas,

amarelam-se os poemas,

feito pétalas de rosas…

 

 

 

 

 

 

Ser feliz a vida inteira,

esperava, quando tinha

tua sombra companheira

caminhando junto à minha.

 

 

 

 

 

 

O vento, num assovio 

predominante, sem fim, 

balança o ninho vazio,

na solidão do jardim…

 

 

 

 

 

 

Após a estiagem plena,

gotejando galhos nus,

a solitária falena

aplaude um raio de luz…

 

 

 

 

 

 

A minha alma, neste chão, 

é uma parede em ruína 

erguendo na solidão 

a janela cristalina...

 

 

 

 

 

 

A saudade rebrotou

vagarosamente, assim

como a flor que ela beijou,

um dia, no meu jardim…

 

 

 

 

 

 

Na rua quase vazia,

as asas, em seu rumor,

agitam com alegria

o nosso jardim em flor.

 

 

 

 

 

 

As horas erram perdidas,

quando estou a te esperar,

feito folhas ressequidas

no céu cheio de luar…

 

 

 

 

 

 

São tantas palavras minhas

no silêncio a se perder,

feito vagas andorinhas

na tarde que vai morrer…

 

 

 

 

 

 

No final do chuvaréu, 

gotejos em borbotão. 

E os pássaros bebem céu 

das poças frias no chão.

 

 

 

 

 

 

Na solidão do poente

existe qualquer segredo,

quando venta longamente

e balança-se o arvoredo…

 

 

 

 

 

 

Durante o momento vago,

um brevíssimo rumor

movimenta o azul do lago…

E o lago se cobre em flor.

 

 

 

 

 

 

Na manhã de solidão,

abrindo minha janela,

vejo flores no portão

cruzado, um dia, por ela…

 

 

 

 

 

 

O vento despetalou,

esquecida sobre o chão,

a rosa que ele deixou,

após a desilusão…

 

 

 

 

 

 

Faz lembrar a flor singela

que recusaste de mim,

a borboleta amarela

a bailar no teu jardim…

 

 

 

 

 

 

No dia vago, cinzento

e de murmúrio fugaz,

releio a vida, no vento

que só folhas mortas traz.

 

 

 

 

 

 

Após o teu beijo leve,

um perfume, então ficou.

Assim como um sonho breve.

Cada qual se dissipou.

 

 

 

 

 

 

Uma vida de ternura…

E um sorriso é o que me resta,

de uma pálida moldura

sobre a cômoda modesta…

 

 

 

 

 

 

Os ventos desoladores

agitam a galharia,

tão longos, como se as flores

não mais voltassem um dia…

 

 

 

 

 

 

No portão da minha casa,

uma rosa perfumada

até finge criar asa,

quando passas na calçada.

 

 

 

 

 

 

As borboletas sedosas 

no jardim cheio de cor, 

são mensagens silenciosas

de uma flor para outra flor…

 

 

 

 

 

 

Na imensidade do céu, 

o luar de frágil luz

é como se fosse um véu 

na ponta dos galhos nus…

 

 

 

 

 

 

É feito livro relido,

agora, no vento frio,

o meu romance perdido

naquele banco vazio…

 

 

 

 

 

 

Hoje penso: a minha dor 

já no tempo se perdeu!

Mas teu adeus é a flor

que ainda marca o livro meu…

 

 

 

 

 

 

Outro aspecto, outra pintura…

Toda a casa, renovada.

Exceto pela moldura 

sobre a cômoda rendada…

 

 

 

 

 

 

O lindo vaso de flores 

com borboleta a voar,

diz daqueles moradores 

e da paz daquele lar.

 

 

 

 

 

 

Do meu passado de flores,

folhas mortas, afinal,

que os ventos desoladores

abandonam no portal…

 

 

 

 

 

 

Naquele parque vazio

de início de primavera,

as folhas voam sem brio…

E já ninguém mais me espera.

 

 

 

 

 

 

Na tarde em suaves chamas

e sonolento rumor,

o vento balança as ramas

carregadinhas de flor.

 

 

 

 

 

 

São pétalas amarelas, 

já ressequidas, porosas,

mas que um dia foram belas 

e que um dia foram rosas!

 

 

 

 

 

 

Quando todo meu afeto

sobre o chão desmoronar,

restará como meu teto

a beleza do luar…

 

 

 

 

 

 

O pensamento flutua,

no momento de magia

que um vaga lume pontua

a noturna poesia.

 

 

 

 

 

 

A chuva silenciosa 

passa feito um vago sonho.

E logo, a primeira rosa 

marca os versos que componho.

 

 

 

 

 

 

A dor maior me atingiu, 

ao vir a triste noção:

a pedra que me feriu 

foi, um dia, um coração.

 

 

 

 

 

 

Descerro minhas pestanas

na noite de solidão

que o luar nas persianas

escreve mais um refrão…

 

 

 

 

 

Manhã cheia de calor,

que as borboletas sedosas

dão toques de céu à cor

do meu canteiro de rosas...

 

 

 

 

 

 

No momento de temor

o teu beijo recusei.

Hoje, vejo em toda flor

aquela que não beijei…

 

 

 

 

 

 

A saudade, de repente.

Feito nuvens de janeiro 

a ensombrecer vagamente 

as flores do meu canteiro...

 

 

 

 

 

 

Por mais que passe ligeiro 

o tempo da primavera, 

no abandono do canteiro

ainda uma flor te espera...

 

 

 

 

 

 

A tua lembrança agora,

nas manhãs, quando desperto,

é um raio de sol que mora

em meu recinto deserto.

 

 

 

 

 

 

Na solidão do caminho,

ao cair dos temporais,

o decrépito moinho

dialoga aos vendavais...

 

 

 

 

 

 

Um dia nós cultivamos 

o nosso jardim de rosas.

Hoje, sob os mesmos ramos,

teço trovas dolorosas.

 

 

 

 

 

 

Uma lágrima brilhante

vai deixando os olhos meus,

com a carta fumegante

insistindo num adeus…

 

 

 

 

 

 

 

Somos nós, hoje, a rimar

na poesia encantada.

Amanhã, bem se sabe: o ar

de uma página virada...

 

 

 

 

 

 

Jamais venha a perecer 

a flor com a qual me apego, 

que, com medo de perder, 

até com lágrimas, rego.

 

 

 

 

 

 

A triste emoção de ver,

no declínio da estação,

as flores que vão morrer,

devagar, beijando o chão...

 

 

 

 

 

 

A moça humilde, singela, 

levando aos lábios a flor,

parece que beija a bela 

mensagem de um trovador…

 

 

 

 

 

 

É como a flor que inebria, 

o teu sorriso a se abrir, 

sanando os males do dia 

e me fazendo sorrir.

 

 

 

 

 

 

No caminho sem rumor,

prosseguindo os passos teus,

vejo apenas uma flor

balançar… - O teu adeus.

 

 

 

 

 

 

Se Deus achar que mereço

hei de caminhar, um dia,

em rumo ao teu endereço,

com flores e poesia.

 

 

 

 

 

Quase faço uma canção,

na linda arte de rimar

minha mão com tua mão,

meu olhar com teu olhar.

 

 

 

 

 

 

 

Na noite misteriosa,

os passos leves, de fada,

tua alma silenciosa

subiu os degraus da escada…

 

 

 

 

 

 

Depois que as cortinas cerram

suas pálpebras de linho,

os meus passos tristes erram

entre as poças no caminho…

 

 

 

 

 

 

Lá dos céus, iluminada,

ela me ouve, com certeza,

como, no alto de uma escada,

uma aparição acesa.

 

 

 

 

 

 

Seja sempre um buscador 

das singelas alegrias.

Um simples ramo de flor 

também embeleza os dias.

 

 

 

 

 

 

Sou como aquele velhinho

na varanda ensombrecida,

olhando o mesmo caminho,

após mais uma partida...

 

 

 

 

 

 

Quando lembro que partiste,

o coração desatina

feito a voz de um sino triste

numa tarde de neblina…

 

 

 


 

 

 

A lembrança de um amor 

que no tempo se perdeu, 

é perfume de uma flor 

que muito longe morreu... 

 

 

 

 

 

 

Bendito seja, louvado

feito tudo o que é de Deus,

o crucifixo dourado

que levas aos lábios teus.

 

 

 

 

 

 

Sobre o pano axadrezado

uma flor de primavera

diz do beijo apaixonado

que em nosso quarto me espera...

 

 

 

 

 

 

Ao abrir minhas cortinas

para a noite perfumada,

vêm estrelas pequeninas

indagar por minha amada.

 

 

 

 

 

 

Testemunha solitária

da esperança que declina,

a pequena luminária

na beirada de uma esquina…

 

 

 

 

 

 

Tua voz melodiosa 

agitou meu coração,

como os ventos, uma rosa

numa tarde de verão…

 

 

 

 

 

 

 

Existe entre nós, pesado,

frio, desmotivador,

desde sempre, o cadeado

na tua cancela em flor…

 

 

 

 

 

 

Sou cavaleiro sem mapa,

no horizonte, a me perder.

A tristeza feito capa,

todo tempo, a me envolver.

 

 

 

 

 

 

Partiste da minha vida,

deixando, ao amanhecer,

uma breve despedida

que não canso de reler…

 

 

 

 

 

 

No meu peito castigado

a borboleta pousou,

feito o toque delicado

de quem um dia me amou…

 

 

 

 

 

 

Foram tantos sonhos meus

nos momentos de ilusão, 

e somente num adeus, 

pude ter a tua mão.

 

 

 

 

 

 

Meu coração solitário,

vesperal e trovador,

tem algo de um campanário

no meio do campo em flor.

 

 

 

 

 

 

Do sonho onde te abracei, 

por um momento de luz, 

de repente despertei 

abraçado à tua cruz.

 

 

 

 

 

 

 

Cada flor de margarida

que desponta no jardim,

uma página da vida

ela marca, para mim.

 

 

 

 

 

 

O vento primaveril

soprando os dias em flor,

elevou aos céus de anil

as minhas trovas de amor.

 

 

 

 

 

 

Meu coração trovador

segrega a ambição singela

de ser ao menos a flor

que paira em tua janela.

 

 

 

 

 

 

As linhas apaixonadas 

que te escrevo normalmente,

são páginas inspiradas 

nas asas de um doce poente...

 

 

 

 

 

 

Uma ressequida flor 

ainda marca o final 

da nossa história de amor, 

que já é quase irreal...

 

 

 

 

 

 

Nosso beijo sinto arder

no crepúsculo da vida,

como, ao fim do entardecer, 

uma rosa bem colhida.

 

 

 

 

 

 

Na janela do sobrado,

Ao luar encantador,

vejo um vulto iluminado

aspirar um ramo em flor.

 

 

 

 

 

 

Sobre a folha, ao meditar,

um rabisco vão qualquer,

de repente vem rimar

com um nome de mulher.

 

 

 

 

 

 

Uma vida proveitosa

tu terás, se cultivares

pelo menos uma rosa,

no caminho que passares.

 

 

 

 

 

 

Vi na trilha que conduz,

o teu vulto se perder

feito um suspiro de luz

nas sombras do entardecer…

 

 

 

 

 

 

Voa longe o passarinho

na manhã de solidão,

despedindo-se do ninho

e abraçando a imensidão...

 

 

 

 

 

 

Horas mortas, que a neblina,

entre folhas outonais,

põe o branco véu na esquina

onde alguém não volta mais…

 

 

 

 

 

 

Para tornar o meu sonho

em realidade plena,

pego de uma folha e ponho-o

sob o lume de uma pena.

 

 

 

 

 

 

Na dura lida em que vivo 

e desde sempre vivi, 

diversas flores cultivo. 

E ficarão por aqui.

 

 

 

 

 

 

Termina o drama sem corte,

ao fim da página lida…

É quando o sopro da morte

cerra o livro desta vida.

 

 

Paulo Maurício G Silva
Enviado por Paulo Maurício G Silva em 30/05/2024
Alterado em 06/05/2025


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
Compartilhar no WhatsAppCompartilhar